Como o ambiente familiar influencia a relação com a comida

Psicóloga e pós-graduanda em Psiconutrição. Atua com Terapia do Esquema e atendimentos online, ajudando mulheres a fortalecerem sua autoestima e a construírem uma relação saudável com a comida.

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A relação que desenvolvemos com a comida não é algo que surge do nada — ela é construída desde a infância e é fortemente influenciada pelo ambiente familiar. As atitudes, crenças e comportamentos dos pais e outros membros da família em relação à alimentação têm um impacto profundo em como crianças e adolescentes aprendem a lidar com o ato de comer, com o próprio corpo e com as emoções. Neste artigo, vamos explorar como o ambiente familiar pode influenciar positivamente ou negativamente a relação com a comida e como promover uma abordagem mais saudável.

O papel dos pais como modelo

Os pais são as primeiras referências que as crianças têm sobre quase tudo, incluindo alimentação. O que eles dizem e fazem em relação à comida molda a forma como os filhos enxergam o ato de comer e o próprio corpo.

Exemplos de comportamentos que impactam a relação com a comida:

  • Comentários sobre peso: frases como “Eu preciso fazer dieta” ou “Estou gordo(a)” podem ensinar às crianças que o valor pessoal está ligado à aparência.
  • Demonstrações de culpa ao comer: como dizer “Eu não deveria ter comido isso” ou “Vou compensar amanhã”.
  • Uso da comida como recompensa ou punição: “Se você se comportar, ganha um doce” ou “Não vai comer sobremesa porque se comportou mal”.
  • Dietas frequentes na família: crianças que veem os pais em dietas restritivas constantemente podem acreditar que a restrição é uma parte natural da vida.
  • Comer em frente à televisão ou de forma apressada: o ambiente da refeição também é importante. Comer com distrações pode fazer com que as crianças não aprendam a reconhecer sinais de fome e saciedade.

Como a cultura familiar afeta a percepção da comida

Além dos comportamentos individuais dos pais, a cultura alimentar da família tem grande influência. Isso inclui:

  • Tradições alimentares: receitas que passam de geração em geração, refeições em família e alimentos que fazem parte da história familiar.
  • Crenças sobre comida: ideias como “Sopa é para quem está doente” ou “Sobremesa é a melhor parte da refeição” são aprendidas desde cedo.
  • Atitudes em relação ao desperdício: frases como “Tem que comer tudo do prato” podem ensinar as crianças a ignorar os sinais de saciedade.
  • Foco em estética e aparência: famílias que dão muita importância ao peso, à dieta ou à imagem corporal podem gerar pressão para que as crianças também se preocupem com isso.

Como o ambiente familiar pode ajudar a construir uma relação saudável com a comida

Felizmente, o ambiente familiar também pode ser uma poderosa ferramenta para promover uma relação positiva com a alimentação. Aqui estão algumas práticas que podem fazer a diferença:

1. Incentive a alimentação intuitiva

Ensine as crianças a reconhecer os sinais de fome e saciedade. Em vez de forçar a comer tudo do prato, pergunte: “Você já está satisfeito(a)?”.

2. Promova uma visão positiva do corpo

Evite fazer comentários negativos sobre o próprio corpo ou o corpo de outras pessoas. Ensine que cada corpo é único e que a saúde é mais importante do que a aparência.

3. Envolva as crianças no preparo dos alimentos

Cozinhar juntos é uma ótima forma de ensinar sobre nutrição de maneira prática e divertida. Permitir que as crianças escolham e preparem alguns alimentos as ajuda a desenvolver autonomia e interesse pela alimentação.

4. Ofereça uma variedade de alimentos

Ao invés de rotular alimentos como “bons” ou “ruins”, ensine que todos os alimentos têm seu lugar em uma alimentação equilibrada. Frutas, legumes, grãos, proteínas e até doces podem fazer parte da rotina de forma saudável.

5. Crie um ambiente de refeição agradável

Sempre que possível, faça das refeições um momento de conexão. Desligue a televisão, sente-se à mesa e converse com a família. Isso ajuda as crianças a aprenderem que comer é uma experiência prazerosa, e não apenas uma obrigação.

6. Evite usar a comida como recompensa ou punição

Ensine que a alimentação é uma necessidade básica e uma forma de autocuidado — não um prêmio ou uma forma de controle.

O que fazer se você percebe comportamentos preocupantes?

Se você percebe que uma criança ou adolescente está desenvolvendo uma relação complicada com a comida, é importante agir com empatia e cuidado. Algumas atitudes que podem ajudar:

  • Converse de forma acolhedora: pergunte como ele(a) se sente em relação à comida e ao corpo.
  • Evite julgamentos: não critique o comportamento ou faça comparações.
  • Ofereça apoio profissional: se necessário, procure ajuda de um psicólogo especializado em comportamento alimentar.
  • Reflita sobre seus próprios comportamentos: o que você está ensinando através do exemplo?

Quando é necessário buscar ajuda profissional?

Se o comportamento alimentar está causando sofrimento, ansiedade ou impactando a saúde física e emocional da criança ou adolescente, é fundamental buscar apoio psicológico. A psicoterapia pode ajudar a:

  • Identificar as crenças disfuncionais sobre comida e corpo.
  • Trabalhar a autoestima e a aceitação corporal.
  • Desenvolver estratégias saudáveis de enfrentamento emocional.
  • Fortalecer o vínculo familiar e melhorar a comunicação.

Em alguns casos, o acompanhamento nutricional também é importante, para garantir que a alimentação seja equilibrada e atenda às necessidades do desenvolvimento.

Uma relação saudável com a comida começa em casa

O ambiente familiar é o primeiro espaço onde aprendemos a nos relacionar com a alimentação. Como pais, responsáveis ou familiares, temos o poder de promover hábitos saudáveis, incentivar o respeito ao próprio corpo e ensinar que comer é uma experiência de cuidado e prazer.

Lembre-se: uma relação saudável com a comida não é baseada em regras rígidas ou em culpa — é baseada em equilíbrio, respeito e acolhimento.

Atenção: Este conteúdo tem caráter informativo e educacional. Ele não substitui o aconselhamento, diagnóstico ou tratamento profissional de um médico, psicólogo, nutricionista ou outro profissional de saúde qualificado. Se você ou alguém que você conhece se identificou com os pontos abordados aqui, ou está preocupado(a) com um transtorno alimentar, considere procurar um(a) psicólogo(a) ou outro profissional de saúde de sua confiança. A busca por ajuda profissional é o primeiro e mais importante passo para a sua saúde e bem-estar.

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