A alimentação saudável é, sem dúvida, fundamental para o bem-estar físico e mental. No entanto, quando o desejo de comer de forma saudável se transforma em uma obsessão rígida e controladora, surge um transtorno conhecido como ortorexia. Embora ainda não seja oficialmente reconhecida como um transtorno alimentar no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a ortorexia já é amplamente estudada e preocupa profissionais da saúde. Neste artigo, vamos entender o que é a ortorexia, como ela se desenvolve e como identificá-la.a
O que é ortorexia?
A ortorexia é uma obsessão doentia por alimentação saudável. Diferente de outros transtornos alimentares, como a anorexia ou a bulimia, o foco da ortorexia não está na quantidade de alimentos ou na perda de peso, mas sim na qualidade dos alimentos.
Pessoas com ortorexia dedicam tempo excessivo à seleção, preparo e consumo de alimentos considerados “puros”, “limpos” ou “saudáveis”. Elas evitam de forma obsessiva qualquer alimento que considerem “não saudável”, o que pode incluir:
- Alimentos industrializados
- Açúcares refinados
- Gorduras
- Produtos com conservantes ou aditivos
- Alimentos que não são “orgânicos”
O problema é que essa busca por saúde se transforma em uma prisão psicológica, onde a pessoa se sente ansiosa, culpada ou até mesmo “suja” ao consumir algo que não se encaixe em seus padrões rígidos.
Como a ortorexia se desenvolve?
A ortorexia é um transtorno multifatorial. Alguns dos principais fatores que podem contribuir para o seu desenvolvimento incluem:
- Perfeccionismo: necessidade de seguir regras rígidas e ser “perfeito” na alimentação.
- Influência das redes sociais: exposição constante a conteúdos que exaltam alimentação “limpa” ou “detox”.
- Histórico de transtornos alimentares: a ortorexia pode surgir como uma “evolução” de outros transtornos, como a anorexia.
- Medo intenso de doenças: a pessoa acredita que apenas alimentos “saudáveis” podem protegê-la de problemas de saúde.
Sintomas da ortorexia
Os sintomas da ortorexia podem se manifestar de diversas formas:
Sintomas comportamentais:
- Gasto excessivo de tempo planejando, comprando e preparando alimentos.
- Evitar eventos sociais que envolvam comida.
- Recusar alimentos preparados por outras pessoas.
- Limitar o cardápio a poucos alimentos “seguros”.
- Controlar obsessivamente os rótulos dos alimentos.
Sintomas emocionais:
- Ansiedade intensa ao pensar em comer algo “não saudável”.
- Culpa extrema após consumir um alimento “proibido”.
- Sentimento de superioridade moral em relação a quem não segue a mesma dieta.
- Isolamento social devido às restrições alimentares.
Sintomas físicos:
- Perda de peso significativa em casos graves.
- Desnutrição por falta de variedade alimentar.
- Problemas digestivos devido à restrição alimentar.
Qual a diferença entre alimentação saudável e ortorexia?
É importante destacar que ter uma alimentação saudável não é um problema. A ortorexia se diferencia porque envolve:
Alimentação Saudável | Ortorexia |
---|---|
Flexível e equilibrada | Rígida e obsessiva |
Permite prazer e socialização | Causa ansiedade e isolamento |
Inclui variedade de alimentos | Restringe severamente grupos alimentares |
Não provoca culpa | Gera culpa extrema por “sair da dieta” |
O impacto da ortorexia na saúde mental e física
Embora comece como uma busca por saúde, a ortorexia pode causar sérios problemas, incluindo:
- Desnutrição: a exclusão de grupos alimentares essenciais leva a deficiências nutricionais.
- Isolamento social: a pessoa evita encontros que envolvam comida e se afasta de amigos e familiares.
- Ansiedade constante: o medo de comer algo “não saudável” domina os pensamentos.
- Comprometimento da saúde mental: a obsessão com a alimentação ocupa tanto espaço que outras áreas da vida são prejudicadas.
O papel da psicologia no tratamento da ortorexia
A psicoterapia é uma ferramenta essencial para o tratamento da ortorexia. Através dela, é possível:
- Identificar as crenças disfuncionais que alimentam a obsessão.
- Trabalhar o perfeccionismo e a necessidade de controle.
- Desenvolver uma relação mais gentil e flexível com a alimentação.
- Reconhecer que saúde vai além do que está no prato.
Em muitos casos, o acompanhamento nutricional também é necessário, para reintroduzir de forma segura alimentos que foram eliminados.
Como ajudar alguém com ortorexia?
Se você percebe que alguém próximo pode estar lidando com ortorexia, algumas atitudes podem ser úteis:
- Evite criticar ou julgar os hábitos alimentares da pessoa.
- Ofereça escuta e apoio, sem tentar impor mudanças.
- Sugira ajuda profissional de forma acolhedora, sem pressão.
- Mostre que saúde é um equilíbrio, e não uma lista de regras.
Frases como “Você só precisa relaxar” ou “Isso é exagero” podem aumentar o isolamento. Ao invés disso, prefira:
- “Eu percebo que você está muito preocupado(a) com o que come. Quer conversar sobre isso?”
- “Você não precisa passar por isso sozinho(a). Podemos procurar ajuda juntos.”
- “Eu estou aqui para te apoiar, não importa o que aconteça.”
É possível se recuperar da ortorexia?
Sim, é possível. Com o apoio certo, a pessoa pode reconstruir uma relação mais leve e saudável com a comida, reconhecendo que o equilíbrio é muito mais valioso do que a perfeição.
Afinal, saúde é um conceito amplo, que inclui o corpo, a mente e as emoções — e não apenas o que está no prato.
Atenção: Este conteúdo tem caráter informativo e educacional. Ele não substitui o aconselhamento, diagnóstico ou tratamento profissional de um médico, psicólogo, nutricionista ou outro profissional de saúde qualificado. Se você ou alguém que você conhece se identificou com os pontos abordados aqui, ou está preocupado(a) com um transtorno alimentar, considere procurar um(a) psicólogo(a) ou outro profissional de saúde de sua confiança. A busca por ajuda profissional é o primeiro e mais importante passo para a sua saúde e bem-estar.