A Ascensão da Ansiedade Climática entre Jovens: Impactos Psicológicos e Como Lidar

Psicóloga e pós-graduanda em Psiconutrição. Atua com Terapia do Esquema e atendimentos online, ajudando mulheres a fortalecerem sua autoestima e a construírem uma relação saudável com a comida.

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Nos últimos anos, uma nova preocupação vem ganhando espaço nas conversas sobre saúde mental: a ansiedade climática, também chamada de ecoansiedade. Esse termo descreve o medo persistente, a preocupação excessiva e até mesmo a angústia diante do futuro incerto em um planeta em crise.

No Brasil, não faltam exemplos recentes que alimentam essa sensação de insegurança: as enchentes históricas no Rio Grande do Sul em 2024 e 2025, queimadas devastadoras na Amazônia e no Pantanal, secas severas no Nordeste e ondas de calor em cidades que não estavam preparadas para enfrentar temperaturas tão extremas.

E, entre todos os grupos da população, os jovens são os mais afetados. Com acesso constante às redes sociais e notícias em tempo real, eles se veem bombardeados por informações alarmantes sobre o aquecimento global, desastres naturais e previsões científicas sombrias.

Mas afinal, o que é ansiedade climática? Quais são os impactos psicológicos dessa realidade? E, principalmente, como lidar com ela de maneira saudável? É o que vamos explorar neste artigo.

O que é Ansiedade Climática?

De acordo com a American Psychological Association (APA), a ansiedade climática é definida como uma forma de angústia ligada à percepção das mudanças climáticas e seus efeitos no presente e no futuro.

Ela não é um diagnóstico clínico, como transtorno de ansiedade generalizada, mas sim uma resposta emocional legítima diante de uma ameaça real.

Entre os principais sintomas estão:

  • Preocupação excessiva com o futuro do planeta;
  • Dificuldade para dormir ou manter o foco em função das notícias sobre desastres ambientais;
  • Sentimento de impotência e desesperança;
  • Angústia, tristeza ou até raiva diante da inação política e social;
  • Dúvidas sobre escolhas pessoais, como ter filhos, viajar de avião ou consumir determinados produtos.

Em outras palavras, a ansiedade climática surge quando a consciência ambiental deixa de ser apenas um interesse ou preocupação e passa a impactar diretamente o bem-estar psicológico.

Por que os Jovens São os Mais Afetados?

Pesquisas internacionais mostram que a ansiedade climática é mais prevalente em jovens e adolescentes. Alguns fatores ajudam a explicar isso:

  1. Exposição constante às informações
    Com as redes sociais, notícias e vídeos viralizam em poucos segundos, muitas vezes sem filtro. Essa exposição diária a imagens de queimadas, enchentes e animais mortos intensifica o medo.
  2. Identidade em construção
    A juventude é um período de definição de valores, carreira, relacionamentos e planos para o futuro. A incerteza climática impacta diretamente essas decisões.
  3. Sentimento de responsabilidade
    Muitos jovens acreditam que precisam “salvar o planeta”, carregando um peso desproporcional em relação à sua capacidade real de mudança.
  4. Dificuldade em lidar com a impotência
    A sensação de que governos e empresas não estão fazendo o suficiente pode gerar frustração e desânimo.

O Cenário Brasileiro

No Brasil, a ansiedade climática ganha contornos ainda mais intensos, já que o país é palco de eventos climáticos extremos recorrentes:

  • Enchentes no Rio Grande do Sul (2024 e 2025): milhares de famílias perderam casas e histórias, provocando traumas coletivos e medo de novas catástrofes.
  • Queimadas na Amazônia e no Pantanal: além da destruição ambiental, jovens relatam um luto profundo pela perda da biodiversidade.
  • Seca no Nordeste: compromete a agricultura familiar, gera insegurança alimentar e alimenta a sensação de vulnerabilidade.
  • Ondas de calor nas grandes cidades: cada vez mais longas e intensas, com impacto na saúde física e emocional.

Para jovens brasileiros, que já enfrentam desigualdades sociais e desafios educacionais, a crise climática adiciona uma camada extra de incerteza. Muitos relatam medo de não poder ter filhos, de viver em cidades inabitáveis ou de não ter perspectivas profissionais diante de um futuro instável.

Ansiedade Climática e Saúde Mental

A ansiedade climática não deve ser vista como um “capricho” ou exagero. Ela pode ter efeitos concretos na saúde mental, como:

  • Insônia e distúrbios do sono;
  • Prejuízo no rendimento acadêmico ou profissional;
  • Sintomas depressivos;
  • Sensação de desesperança e falta de sentido;
  • Burnout ambiental – esgotamento emocional causado pelo engajamento intenso em questões ambientais sem ver resultados imediatos.

Quando não tratada, pode agravar quadros de ansiedade generalizada ou depressão já existentes.

Estratégias de Enfrentamento

A boa notícia é que existem formas de lidar com a ansiedade climática de maneira saudável e construtiva. Algumas estratégias incluem:

  1. Psicoeducação
    Compreender que a ansiedade climática é uma resposta normal ajuda a reduzir a culpa e a vergonha. Não é fraqueza sentir medo diante de uma ameaça real.
  2. Técnicas de regulação emocional
    Práticas como mindfulness, respiração profunda e exercícios de grounding ajudam a reduzir o impacto imediato da ansiedade.
  3. Equilibrar informação e autocuidado
    Estar informado é importante, mas o excesso de notícias pode gerar paralisia. Definir limites saudáveis para consumo de informações é essencial.
  4. Transformar medo em ação
    Engajar-se em projetos ambientais, voluntariado ou movimentos sociais pode ajudar a ressignificar a ansiedade em forma de contribuição.
  5. Construir rede de apoio
    Conversar com amigos, família ou grupos que compartilham das mesmas preocupações gera acolhimento e sensação de pertencimento.

O Papel da Psicoterapia

A psicologia desempenha um papel crucial no manejo da ansiedade climática. Na terapia, é possível:

  • Elaborar os sentimentos de luto ambiental e desesperança;
  • Ressignificar a relação com o futuro;
  • Desenvolver recursos internos para lidar com a incerteza;
  • Trabalhar a autocompaixão, evitando cobranças excessivas.

Abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental, a Terapia do Esquema e até práticas da Psicologia Positiva podem ser aplicadas para fortalecer resiliência e engajamento saudável.

É fundamental lembrar: a terapia não elimina a crise climática, mas ajuda a pessoa a lidar com seus efeitos emocionais e encontrar formas de viver com mais equilíbrio.

O que Jovens Brasileiros Podem Fazer?

Além da psicoterapia, algumas práticas individuais e coletivas podem ajudar:

  • Participar de coletivos ambientais em escolas e universidades;
  • Praticar consumo consciente, reduzindo desperdícios e escolhas de alto impacto;
  • Equilibrar engajamento e autocuidado, evitando sobrecarga;
  • Exigir políticas públicas e cobrar mudanças estruturais por meio do voto e da participação social.

Perspectiva Global e Científica

Relatórios da ONU e de revistas científicas recentes mostram que a ansiedade climática já é considerada uma questão de saúde pública mundial.

Um estudo publicado na The Lancet Planetary Health mostrou que mais de 60% dos jovens em 10 países relataram sentir muita ou extrema ansiedade em relação ao clima. Muitos acreditam que governos não estão fazendo o suficiente para proteger seu futuro.

Países como Suécia e Reino Unido já incluem estratégias de apoio psicológico em seus planos de enfrentamento à crise climática, mostrando que essa é uma preocupação legítima e que exige respostas institucionais.

A ansiedade climática é um reflexo da consciência crescente sobre os desafios ambientais que enfrentamos. Para os jovens, ela pode ser especialmente avassaladora, pois impacta a forma como enxergam o futuro, planejam suas vidas e constroem seus projetos pessoais.

Sentir medo não é sinal de fraqueza, mas de lucidez. A questão central não é eliminar a ansiedade climática, mas aprender a transformá-la em ação e em cuidado — consigo mesmo e com o planeta.

Se você tem sentido que o medo em relação ao futuro está te paralisando ou prejudicando sua saúde mental, buscar apoio psicológico pode ser um passo importante. A psicoterapia oferece um espaço seguro para elaborar esses sentimentos e encontrar novas formas de enfrentamento.

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