A saúde mental infantil no Brasil está vivendo um momento crítico sem precedentes. Os números são alarmantes: quase um em cada seis meninas e meninos entre 10 e 19 anos de idade no Brasil vive com algum transtorno mental, segundo dados do UNICEF. Mas o que levou nossa sociedade a esse ponto? Por que 2025 se tornou o ano em que finalmente reconhecemos esta crise?
A Realidade Atual dos Números
O cenário da saúde mental no Brasil apresenta dados preocupantes que não podem mais ser ignorados. Segundo o Ministério da Saúde, os afastamentos relacionados à saúde mental mais que duplicaram em dez anos, passando de 203 mil em 2014 para mais de 440 mil em 2024, estabelecendo um recorde histórico que reflete uma tendência crescente e preocupante.
Quando falamos especificamente das crianças e adolescentes, a situação se torna ainda mais alarmante. Segundo estudos da Fiocruz, o aumento de diagnósticos de ansiedade e depressão em crianças e adolescentes acendeu um alerta nacional, forçando profissionais de saúde, educadores e famílias a repensarem suas abordagens.
O Impacto Devastador da Pandemia
A pandemia de COVID-19 funcionou como um catalisador para problemas que já existiam, mas permaneciam parcialmente ocultos. Conforme relatório específico do UNICEF sobre impactos da COVID-19, crianças, adolescentes e jovens poderão sentir o impacto da covid-19 em sua saúde mental e bem-estar por muitos anos.
Durante o período de isolamento social, observamos consequências diretas no comportamento infantil. Segundo pesquisa publicada no Journal of Clinical Medicine, “pudemos observar durante a pandemia um aumento do apego, medos, distúrbios do sono, falta de apetite, agitação, desatenção e distúrbios de separação” em crianças acompanhadas durante este período.
Os Principais Fatores Desencadeantes
1. Isolamento Social e Mudanças na Rotina
O distanciamento social alterou os padrões de comportamento da sociedade, com o fechamento de escolas, a mudança dos métodos e da logística de trabalho e de diversão, minando o contato próximo entre as pessoas. Para as crianças, essa mudança foi especialmente traumática, pois interrompeu processos fundamentais de desenvolvimento social e emocional.
2. Pressão Acadêmica e Digital
Com a digitalização forçada do ensino, crianças e adolescentes se viram diante de novos desafios. A adaptação ao ensino remoto, combinada com o aumento do tempo de tela e a redução de atividades físicas, criou um ambiente propício para o desenvolvimento de transtornos mentais.
3. Instabilidade Familiar e Econômica
Muitas famílias enfrentaram crises financeiras, desemprego e instabilidade emocional dos próprios pais, criando um ambiente doméstico tenso que afetou diretamente o bem-estar psicológico das crianças.
Por Que 2025 Marca o Reconhecimento da Emergência?

Dados Científicos Consolidados
Após anos coletando informações sobre os impactos da pandemia, 2025 se tornou o ano em que os dados científicos consolidados finalmente comprovaram a gravidade da situação. Segundo estudo publicado no Cadernos de Saúde Pública, foi identificado impacto da COVID-19 através do aumento da ansiedade, depressão, problemas comportamentais, procura dos serviços de urgência e emergência, uso de drogas ilícitas e psicotrópicos, distúrbio de atenção e aprendizagem.
Pressão sobre o Sistema de Saúde
O sistema de saúde brasileiro começou a sentir o peso dessa crise de forma mais intensa. Conforme dados do DATASUS, a ascensão de transtornos e probabilidade de suicídio é realidade a ser enfrentada por serviços de saúde, escolas e família, criando uma demanda que supera a capacidade atual de atendimento especializado.
Mobilização Política e Social
É urgente a necessidade de proteção à saúde mental de crianças e adolescentes, segundo relatório do Conselho Federal de Psicologia, que começou a propor programas específicos junto a autoridades políticas para enfrentar essa emergência nacional.
Os Sinais de Alerta que Pais Devem Observar
Sintomas Emocionais
- Mudanças bruscas de humor
- Irritabilidade constante
- Tristeza prolongada
- Ansiedade excessiva
- Medos irracionais
Sintomas Comportamentais
- Isolamento social
- Recusa em participar de atividades antes prazerosas
- Alterações no padrão de sono
- Mudanças no apetite
- Dificuldades de concentração na escola
Sintomas Físicos
- Dores de cabeça frequentes
- Dores de estômago sem causa aparente
- Fadiga constante
- Tensão muscular
- Alterações no sistema imunológico
Estratégias de Prevenção e Intervenção
No Ambiente Familiar
Comunicação Aberta: Estabelecer um diálogo franco e acolhedor com a criança, demonstrando interesse genuíno por seus sentimentos e experiências.
Rotina Estruturada: Manter horários regulares para refeições, sono, estudos e lazer, proporcionando segurança e previsibilidade.
Limites Saudáveis: Estabelecer regras claras e consistentes, sempre explicando o motivo por trás das decisões.
No Ambiente Escolar
As escolas desempenham um papel fundamental na identificação precoce de problemas de saúde mental. Segundo diretrizes do MEC, professores treinados podem reconhecer sinais de alerta e encaminhar adequadamente os casos que necessitam de intervenção profissional.
Programas de Educação Socioemocional: Implementar currículos que desenvolvam habilidades de inteligência emocional, resilência e autoconhecimento.
Capacitação de Educadores: Treinar professores e funcionários para identificar sinais de sofrimento psíquico e saber como responder adequadamente.
Intervenção Profissional
A busca por ajuda profissional deve ser encarada como um ato de cuidado, não de fracasso. Psicólogos infantis, psiquiatras especializados e outros profissionais de saúde mental certificados pelo Conselho Federal de Medicina estão preparados para oferecer o suporte necessário.
O Papel da Tecnologia: Vilã ou Aliada?
A relação das crianças com a tecnologia se intensificou dramaticamente durante a pandemia, e seus efeitos na saúde mental são complexos e multifacetados.
Aspectos Negativos
- Exposição excessiva a conteúdos inadequados
- Cyberbullying
- Dependência digital
- Redução de atividades físicas
- Comparação social através de redes sociais
Aspectos Positivos
- Acesso a recursos educacionais
- Manutenção de vínculos sociais
- Plataformas de apoio psicológico
- Jogos e aplicativos terapêuticos
- Telepsicologia e teleconsultas
Construindo um Futuro Mais Saudável
Investimento em Prevenção
A prevenção é sempre mais eficaz e econômica que o tratamento. Investir em programas preventivos nas escolas, capacitação de profissionais e conscientização familiar pode significativamente reduzir a incidência de transtornos mentais infantis.
Quebra de Tabus
O tabu sobre o tema ainda impossibilita tratamento adequado, conforme pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria. É fundamental que a sociedade brasileira supere preconceitos e estigmas relacionados à saúde mental, especialmente quando se trata de crianças e adolescentes.
Políticas Públicas Efetivas
O desenvolvimento de políticas públicas específicas para saúde mental infantil, com orçamento adequado e implementação eficiente, é crucial para enfrentar essa emergência nacional.
Recursos e Onde Buscar Ajuda
Serviços Públicos
- CAPS Infantojuvenil (Centros de Atenção Psicossocial)
- Unidades Básicas de Saúde (UBS)
- Ambulatórios especializados em hospitais públicos
Organizações de Apoio
- Centro de Valorização da Vida (CVV): 188
- Disque 100 (violação de direitos)
- Conselho Tutelar local
Sinais de Emergência
Em situações de risco imediato de autolesão ou suicídio, busque imediatamente o pronto-socorro mais próximo ou ligue para o SAMU (192).
Conclusão: Um Chamado à Ação
A crise de saúde mental infantil no Brasil em 2025 não é apenas uma estatística alarmante, mas um reflexo de transformações sociais profundas que exigem resposta urgente e coordenada de toda a sociedade.
Como pais, educadores, profissionais de saúde e cidadãos, temos a responsabilidade coletiva de priorizar o bem-estar emocional de nossas crianças. Isso significa investir em prevenção, quebrar tabus, buscar ajuda quando necessário e criar ambientes que promovam o desenvolvimento saudável.
A emergência de 2025 pode se tornar o ponto de virada que precisávamos para construir uma sociedade mais atenta, acolhedora e preparada para cuidar da saúde mental de suas futuras gerações. O tempo de agir é agora – o futuro de nossas crianças depende das escolhas que fazemos hoje.
Lembre-se: buscar ajuda é um ato de coragem e amor. Se você suspeita que uma criança em sua vida pode estar enfrentando dificuldades emocionais, não hesite em procurar orientação profissional. Cada criança merece crescer em um ambiente que valorize tanto sua saúde física quanto mental.